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1 de agosto de 2011

VISITA A INHOTIM - 23 e 24 de Julho de2011

Marcos Henrique Silva
Maria Regina Ribeiro Gonçalves

Depois de percorrer a paisagem áspera e terrosa de Brumadinho, com seus amplos tratos de terra, sinais de queimadas e habitações precárias, atingimos uma trilha flanqueada por plantas ornamentais. É a primeira aparição de Inhotim, esse imenso viveiro contendo diversas espécies da flora brasileira e que se constitui em ambiente perfeito para as exposições de arte contemporânea que ali são realizadas em caráter temporário e permanente. Uma vez inseridos neste espaço, esquecemos completamente o entorno e seguimos acreditando nas possibilidades de renascimento edênico em nosso pobre mundo contemporâneo.

Visitar Inhotim é uma experiência extraordinária para qualquer pessoa, não importa qual seja a sua formação, pois todos aqueles dotados de sensibilidade são capazes de perceber que nesse lugar estamos diante de um esforço hercúleo do homem no sentido de promover relação sustentável com a natureza, mediante o enfrentamento dos acasos da criação e da própria resistência dos lugares, que insistem em ser ordinários apesar de nossos esforços em contrário.

O encontro entre arte, arquitetura e recursos naturais engendra as mais insólitas composições, emprestando beleza e dramaticidade aos elementos do espaço. Logo ao entrar, temos a visão de um lago cuja água recolhe os matizes da mata circundante e produz uma espécie de liquefação da cor, o que nos dá sensação de que o elemento cromático surge de uma relação de intercâmbio entre vegetação e água. Outros lagos ornamentais surgirão pelo caminho, sempre delimitando e refletindo edificações, ou simplesmente iluminando recantos naturais paradisíacos.

As obras de arte expostas a céu aberto são verdadeiros desafios ao olhar e nos convidam a criar sentidos visuais em meio à exuberância paisagística, algo nem sempre fácil, tendo em vista a dificuldade em decidir o que é mais notável: arte ou natureza. Inhotim oferece uma rara oportunidade de refletir sobre essa relação entre arte e mundo, cosmogonia e criação, pois mesmo os recursos naturais ali presentes são permeados pela intervenção do homem. E não poderia ser diferente, considerando a impossibilidade de manter semelhante harmonia e organização formal em condições naturais.

As galerias proporcionam viagens culturais quase tão amplas quanto o próprio Inhotim. Desde a instalação com caixas de som transmitindo as diversas camadas de uma obra musical polifônica, até os ambientes abertamente interativos de Hélio Oiticica, temos um amplo espectro de propostas artísticas, representativas das várias matrizes estéticas que compõem a arte contemporânea brasileira. Porém, todas essas matrizes tornam-se patrimônio constitutivo do lugar, e as obras que as materializam são permanentemente transformadas a partir de sua inserção em espaço tão singular.

Da mesma forma, nós, visitantes, somos transformados por nossa experiência de fruidores de Inhotim. Nossa concepção de arte, natureza e paisagismo jamais será a mesma, porque fomos instigados, tocados, em nossa própria capacidade onírica. E nos tornamos capazes de criar um jardim imaginário a cada vez que estabelecemos algum contato com a arte, podendo mobilizar as lembranças extraordinárias conquistadas a partir da visita.

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