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Projetos

Atualmente o Museu Municipal de Uberlândia tem, em atividade, os seguintes projetos educativos e de extensão:


- "De mala e cuia" 
Apresentação:
O Museu Municipal de Uberlândia – órgão da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de Uberlândia – é uma instituição de conceito histórico-antropológico que se ocupa das questões ligadas a história do município. A instituição foi criada em 1986, inicialmente como um Museu de Ofícios, e, desde então, trabalha na preservação e pesquisa de aspectos da cultura material inerentes ao município. De sua fundação aos dias atuais várias foram as formas de comunicação do museu com o público, realizando mostras temporárias, de longa duração, itinerantes, palestras, oficinas, produzindo materiais iconográficos e textuais e outras formas de divulgação e apresentação dos trabalhos.
Como parte da sua atuação museal apresentamos o “De mala e cuia”, um projeto de extensão do Museu Municipal, pelo qual propomos estreitar as relações da instituição com a comunidade e avançar na missão de preservar, documentar, refletir e comunicar aspectos ligados à memória e a história de nossa sociedade. O projeto busca, por meio do uso de variados objetos e linguagens, fazer um apanhado sobre a história do município e desconstruir a imagem de que os lugares de memória de uma sociedade são espaços cristalizados, desinteressantes e desvinculados dos aspectos do viver atual; substituindo-a por uma concepção que os entendem como espaços vivos, lugares de reflexão, prazer e construção do saber. Assim, acreditamos ser possível fomentar o enriquecimento histórico-cultural da comunidade, estabelecendo por meio de ações, de objetos (peças museológicas, documentos, livros e materiais didáticos) e de espaços (museu, arquivos etc.) a comunicação entre cidadãos, informações e dados sociais, históricos e culturais.
Na intenção de potencializar o alcance e a visibilidade das questões com as quais trabalhamos (memória, história, patrimônio, cultura) vimos no desenvolvimento deste projeto a possibilidade da instituição, de certo modo, ir até o seu público – um adendo à prática de rotina do museu, quando o público vai até o espaço de nossas exposições. Por outro lado, atendemos à necessidade de um amplo público escolar que ainda que se manifeste interessado em visitar as exposições, participar de atividades orientadas etc. não tem como fazer o deslocamento até o museu. Assim, caminhamos no desenvolvimento de nossa missão institucional, que se situa na convergência de três pontos tidos como imprescindíveis na atuação do Museu Municipal de Uberlândia, a saber: cultura, educação e comunicação.
Trata-se de um instrumento de educação patrimonial, prática que vem se tornando cada vez mais comum no trabalho desenvolvido por museus e outras instituições responsáveis pela identificação, preservação e valorização das memórias, histórias e patrimônios culturais e sociais. A proposta, logo, é fornecer um amplo leque de possibilidades para se trabalhar estes temas a partir de uma mala itinerante que “viaja” as escolas da cidade levando peças de nosso acervo, materiais com informações sobre o trabalho do museu e sobre patrimônio histórico, jogos/brinquedos que estimulam o pensamento, o conhecimento e relacionamento com crianças e jovens em idade escolar. Acreditamos que desse modo criamos uma oportunidade para o uso e a apropriação dos bens culturais em espaço externo ao museu, expandindo o raio de ação de nossas ações.
O uso do “De mala e cuia” como um recurso pedagógico pode ser explorado na educação de crianças, jovens e adultos inseridos nos currículos e disciplinas do ensino formal, servindo ainda como instrumento para a prática da cidadania por meio da problematização de questões de ordem histórico-social, que passam pelo reconhecimento do processo histórico de formação das sociedades, da memória/história e lugares que os sujeitos ocupam nesse processo. A produção de um conhecimento participativo e crítico, como o que ocorre na interação museu-comunidade, contribui para a apropriação consciente do patrimônio e é fator primordial no processo de preservação e de fortalecimento de sentimentos como pertencimento e identidade. Para tanto propomos “como princípio a experiência direta dos bens e fenômenos culturais para se chegar à sua compreensão, internalização e valorização, [já que] o método da Educação Patrimonial só pode ser, da mesma forma, um processo contínuo de experimentação e descoberta. Sua riqueza e potencial só podem assim avaliados e dimensionados por aqueles que a experimentam em seus diversos campos de ação patrimonial, educacional e comunitária.”1
Daí que dentro da mala não há uma orientação fixa ou um material de uso rígido, mas ferramentas que possibilitam números diversos de abordagem, perspectivas e representações históricas, sendo possível o seu uso em áreas como português, história, artes etc. É importante destacar que os temas, objetos, imagens e demais materiais contidos na mala tem relação, direta ou indireta, com o museu ou com a história da cidade de Uberlândia e dos sujeitos que a constituíram.

Para além dos objetos: memórias e histórias
Na mala do projeto temos objetos, fotografias e outros tipos de documento. A intenção, entretanto, não é fazer circular os objetos como se eles tivessem como fim a si próprios, deslocados do tempo, do contexto, dos modos de uso, do atendimento a necessidades específicas. Eles são, dentro do projeto, fontes primárias de conhecimentos que nos informam sobre a rede de relações sociais e a situação histórica em que foram produzidos, utilizados e recheados de sentidos e significados pela sociedade que os criou/usou. Existe um número complexo de relações, conexões, avanços/retrocessos que estão associados a objetos de uso cotidiano ou a um documento que remete ao dia-a-dia em uma sociedade.
Já foi dito que o material que consta no “De mala e cuia” está sintonizado mais especificamente com a história local. São documentos que funcionam como ancoras, como dispositivos para se acessar determinadas trajetórias do homem no decorrer do tempo, pois, “cada produto da criação humana, utilitário, artístico ou simbólico, é portador de sentidos e significados, cuja forma, conteúdo e expressão devemos aprender a ler ou decodificar.”2 Seu uso direto, que obriga (positivamente) que todos os envolvidos façam uso de suas capacidades de observação e análise do objeto, discurso ou fenômeno estudado, os transforma em peças chave no desenvolvimento do saber e não simplesmente como mera ilustração para as aulas.
Do “jogo da memória” presente no “De mala e cuia”, por exemplo, podemos extrair diferentes possibilidades para se pensar a vida, a sociedade, a história. Todas elas partem da análise do material disponível, que são soluções de problemas historicamente conhecidos e que deixaram suas marcas no presente. Metodologicamente, é preciso ver a evidencia, analisá-la e pensá-la como uma solução real para problemas reais; fazer um movimento por tempos distintos para ver e analisar o problema no passado e compreender como se construiu determinada solução. A título de exemplificação podemos partir da “Binga”, um dos vários objetos que a mala traz para o contexto escolar e a partir do qual é possível interrogar o passado, dialogar com o presente. A construção de um itinerário interpretativo, da construção de uma trama para a compreensão dos objetos/documentos, pode ser realizada a partir de algumas perguntas que forçam certas reflexões: quais os aspectos físicos, a forma, o uso, a maneira de confecção, o significado, o jeito como os homens se relacionam com dado objeto, como ele é valorizado socialmente, o que representa em termos práticos e simbólicos? No caso da binga, algumas respostas emergem, caracterizando-a como um instrumento rústico, precursor do atual isqueiro, que pode ser resultado de processo industrial ou artesanal. É possível aferir que sua forma depende do suporte no qual é confeccionada, ou seja, cilíndrica se de pedaço de couro, esférica no uso do coco, capsular quando da fruta do jequitibá e assim por diante. Nota-se que seu funcionamento requer a introdução de algodão ou pedaço queimado em sua estrutura oca, que depende da fricção de dois pedaços de pedra-de-fogo. Observando, pensando e pesquisando chega-se ao conhecimento de que seu uso era freqüente em tempos em que o fósforo era raro – ou seja, atendia com sua tecnologia uma necessidade de época.
Este objeto, que pode ser observado e analisado junto com os alunos, possibilita inserções na história quando começamos a pensar o seu uso. Quando falamos da origem do município de Uberlândia e dos primórdios de nosso centro urbano voltamos o olhar para a figura dos bandeirantes, cuja passagem de dois deles (Anhanguera 1 e 2) pela região demarcou o caminho posteriormente utilizado pelos sujeitos (não-indígenas) que deram inicio ao seu povoamento. No cotidiano desta aventura dos séculos XVII e XVIII, a binga foi um objeto de uso cotidiano como tantos outros, objeto que hoje nos possibilita acessar parte daquela história.
Assim como a binga, cada objeto, cada imagem ou outro documento possibilita inserções históricas que levam à reflexão do “que somos” e “de onde viemos”. Compreender essas dimensões sociais (que englobam todos os sujeitos em uma sociedade) pode contribuir para que os indivíduos encarem a vida social por prismas diferenciados – os quais não conhecemos nem sabemos das conseqüências, mas que ainda sim podem ser positivado.


Materiais:
Na mala serão encontrados materiais diversos, que podem ou não serem trabalhados. A intenção é fornecer um número vasto de materiais para que o usuário construa uma possibilidade de uso que se adéqüe aos seus interesses e objetivos pedagógicos (um tipo para cada sala, ou um tipo para cada faixa etária). Assim, pode-se optar por trabalhar apenas as peças. Ou apenas os jogos, ou os documentos contidos no CD; tudo dependendo do público e do tipo de atividade proposta.
Temos, portanto, 16 objetos retirados da reserva técnica do Museu Municipal de Uberlândia (identificados com nome e identificação de uso), todos eles afinados com o cotidiano e o desenvolvimento histórico da cidade e região. Há ainda cartilhas, monóculos com imagens que são indícios das transformações urbanas em Uberlândia e um CD com imagens, textos de apoio, inventários culturais que podem ser explorados pelo professor. Além disso, existem materiais que possibilitam a abordagem dos temas históricos a partir de ações lúdicas, que são os jogos da memória, o quebra-cabeça, o dominó e “trilha da cultura” e o DVD com filmes de curta-metragem realizados com técnica de animação e que tratam do tema patrimônio histórico.
1 HORTA, Maria de Lourdes; GRUMBERG, Evelina; MONTEIRO, Adriane Queiroz. Guia básico de Educação Patrimonial. Brasília: IPHAN, Museu Imperial, 1999, p. 5.
2 HORTA, Maria de Lourdes; GRUMBERG, Evelina; MONTEIRO, Adriane Queiroz. Guia básico de Educação Patrimonial. Brasília: IPHAN, Museu Imperial, 1999, p. 9.

 
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